3.12.10




Caderno artesanal de encadernação japonesa, com capa de papel Kraft (400 g/m) revestido com tecido + botão. Miolo de papel reciclato (75g/m) com 84 folhas.
R$12,00

2.10.10

paranóia

Tinha essa coisa dentro. Sem forma essa maldição. 

Incoerente na sua grandeza, essa coisa invadia os momentos de se consumar o tempo quando ele pesava sem aviso.
Preferia partir nessas horas, mergulhar na delicadeza que é sofrer um surto de realidade.
Só o silêncio poderia preencher essa vontade de ir além.
Saltar pelas telhas escorregadias de uma casa vazia, abandonada dessa alegria cotidiana que persegue o amor como quem bebe a água que jamais sacia.
Preferia as pilhas de papéis mofados, talvez a única e possível testemunha de uma vida tão cheia de futuros esquecidos.
O que seria dela nesses momentos devastadores, de força sem medida? Desabaria sob as cobertas, inventaria seres?
Que energia é essa que nasce da paranóia? Desses olhos que nos acompanham para ler os registros de uma civilização que dura apenas as horas que não nos foram roubadas pela idéia de sobreviver...
Será uma espécie de sabedoria isso que agora pratico? 
[Esse desfecho apático e necessário, impessoal demais para ser aceito como fato]
Vamos facilitar os cursos desse rio turbulento – gritavam seus fantasmas politicamente corretos enquanto sua mente saltava em patamares vertiginosos.
Ela tinha essa coisa e tinha vida nisso, dali sopravam os desejos absurdos de não pertencer a nada. 
Por menor que fossem as mágoas, ela não as abandonaria.
Porém poucos perceberam a potência incrustada dessa coisa dela.
E por isso ela seguia só, acompanhada dos olhos estranhos de sua paranóia.

o mundo é mau

o mundo é mau, meu filho

o mundo tem tempo
pra te esperar na esquina, se esquivar nas macegas da ruazinha
o mundo é feito de gente malvada,
de gente que quer roubar a sua mesada.

esse mundo não é mole mesmo,
ele te suga, te exige, te apressa
e é preciso ser sempre forte e desconfiado.
o mundo é muito pesado.

não fale com estranhos, não pegue carona,
não mexa com bichos, não pegue vento,
não fique gripado
não fique parado
que o mundo vai te deixar pirado
se tentares viver no teu tempo
o tempo está dado
está contado
8 horas de trabalho, 8 horas de sono,
4 de televisão, 4 de qualquer coisa que desligue o teu cérebro

mundo é mau, meu filho
mas eu sou tua garantia
sempre que precisares estarei aqui
virei correndo com meu carro importado
te dizer que enquanto te comportares e aceitares os meus agrados
estarás seguro

19.5.10

ultimamente,
dedos verdes e calejados,
cadernos de letras tremidas inspiradas pelos freios da Transol,
o mínino de freios possível para as coisas que são realmente importantes,
ouvidos atentos, olhos fechados,
sapatos rotos
e uma vontade imensa de engolir a música de Vitor Ramil,
que, provavelmente, foi a única que
compreendeu parte dessa tristeza densa que habita as minhas entranhas
e se disfarça de alegria cotidiana.




......................................................

passarim

ai de mim, passarim!

eu que tanto vôo, não passo de um cágado.
[pra não dizer uma "cagona"]
que tanto corro, atolei no tempo
e quase morro de calma.
que disse: "quero ser outra", continuo querendo ser nada.
eu que tanto assobiava, agora queria cantar um pouquinho.
eu, tu... pensa não, coração!
que esse querer pode ser bonito
e virar canção de ninar.
dorme tranquilo e balança na rede.




.........................................................

30.4.10

o que pode

um navio, um nariz de palhaço, uma risada cicatriz – daquelas que desmonta todo um mundo edificado.

uma dancinha boba, ventilador de desejos, turbilhão na espinha. como traduzir?
a melhor heterotopia, aquilo que não se previa.
topamo-nos naquele planeta bizarro, fizemos poucas e boas por lá.
a doçura que nunca é tranqüila, nem quando vira gesto.
porque quer sempre existir, refazer-se doce.
corpo querido de incrível curvar-se dentro e fora.
corpo-eterno-desenrolar.
gosto de “puta que pariu! o que eu faço com isso que sinto?”
o “eu te amo” que não quer ser merecido, quer ser nossa capacidade de magia, acordo com aquela gostosa alegria de estar vivo.
simplesmente estar.
o nosso “eu te amo” tem um planeta só dele. ele é corpo que vibra por si.
ele já foi nuvem.
ele é uma potência.
o que pode um “eu te amo”?
eu não sei. mas quero descobrir contigo.

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nós de encontro

teu corpo tem nós de encontro

com o meu
e são tantos

teu corpo encontra meus nós
e cria nesse encontro um “entre nós” indescritível
impassível de metáfora

teu corpo compõe, funde, faz um novelo de dimensões enroladas
teu corpo-alma é um bom encontro
quando me dissolve nesse vibrar enlouquecido

teu corpo tem tantos nós
que preciso aprender-me para encontrá-los
e esse aprender como ser um “nós”
tem me motivado tanto

teu corpo também tem nós de maus encontros
que eu dissolvo com meus dedos sempre que consigo

nesse incessante apertar de peles e músculos
a gente cria mais de nós do que imaginamos

teu corpo tem pequenas vidas
cheiros, contornos, texturas
que me atravessam em desejos de ser vento, navio e todas essas palavras que vomito
teu corpo-alma é uma infinitude

teu corpo tem sido uma imensidão que eu navego
um emissor de intensidades-pró-poesia
não sei se consigo e nem sei porque preciso descrever teu corpo
descrever é sempre tão difícil
e é ainda pior quando a gente começa as estrofes sempre do mesmo jeito

mas é que... teu corpo...

......................................................................
POEMA PARA LUIZ

PALAVRA CANTADA.
TATI É MEU TURNO.
“SA”, SOL DE VÁRIAS LUAS.
TACITURNO.
PLURAL. POEMA OBSCURO.
LEVE QUE PÓ.
BELEZA VICIANTE.
DE MÚLTIPLA TÔNICA.
SÓ SEI DO SEU CANTAMENTO, A CULMINAR NO MEU “EN”.
E QUERO MORAR POR BONS TEMPOS NESSA ALTITUDE.
E DA MORADA, EVENTUALMENTE, PERDER O “L”.

21.5.09

Súbito transtorno.

Acho graça na auto-castração transformada em verbo
que persiste potência,
agindo em pulsar desritmado.

Quanto maior o ato,
maior a potência.

Talvez seja útil brincar de inércia.

Queria implodir
esse acúmulo de futuros que guardo,
ou melhor,
escondo na manga (como se eu tivesse o dom da magia).

Eu tenho mesmo é cara-de-pau, disseram esses dias.
E deve ser verdade.
Porque isso é pré-requisito para cometer um ato.
Acho que cansei de agir, atuar.
Vou ficar parada por um tempo.
Vou desligar algumas coisas.
Vou tentar chorar mais.
É... Não sei mesmo parar.
O movimento sempre me engole primeiro.

A parte e o par

Parte porta o quê?
Parte repete
se reparte por par...
Por quê?

Parte pára,
perde o porvir,
se perde por par,
fica à parte.

Parte, sim!
mas não pela praxe,
parte pela arte de pertencer somente ao pó,
de partilhar solidões com gosto.

Não pelo par.

Parte só o que se pensa um,
sem apartar o vazio de não pertencer
além do porto.

Parte ao porto,
não ao par.
Faz paródia,
aponta o paradoxo.

Apura o parto,
faz saltar as vísceras.
Quebra todo o paradigma.
Escancara.

Pára, pára!
Parte para...
Parte nada

Fica só
Fica.

19.4.09

O impulso e o navio

Ainda que de mim brotem os velhos clichês,
Ainda que te amar seja uma idéia confusa e bizarra,
(como as cambalhotas na areia, que não têm hora ou motivo, simplesmente nascem de um impulso louco e necessário)
sim! É possível enfrentar os medos sem negar a liquidez deste processo de descortinar pele, sentido, rumo.
Fazer desse delírio um elástico,
Como um caminhar há muito torcido, que enfim, vê-se liso e forte.
Impulso.
Meu corpo arremessado numa parede.
Voando,
Dançarei nos fluxos daquilo que não for nosso, meu ou teu.
Mas do que navegar nas possibilidades de nossa existência, sem forma ou referência.
Se haverá a dor da colisão?
Não se trata de construir um mundo.
Muito menos de desprender-se de uma realidade.
Contigo, vejo a potência de um navio,
Conduzido pelos impulsos de um vento de origem desconhecida.
Que passa pelo elástico, mas vem de infinitos pontos.
Um vento não-direcional. Que pode estar contra o elástico e a favor da trajetória.
Que cria o impulso de “sair de mim”, de experimentar lugares feitos de vida sem rosto,
Sem tantos nomes.
É como se nossa verborragia produzisse um silêncio tão calmo,
que a linguagem já não precisa ser um problema.
Porque faz uso da pele, dos cheiros, dos sons.
Porque é vento.
A linguagem entre a gente respira e dança.
E cresce em forma de desejo.
E eu, de cara para o absurdo, vejo-me perdida entre tanta coerência.
É como levar um tapa da vida. Como um bando de vozes rindo de mim.
Dizendo que eu tenho esses medos.
Dizendo: “tu és como todos os outros”.
Tu buscas o belo.
E esta é mais óbvia das provas.
Se eu tenho medo da dor? Se eu acredito na parede?
Eu nem acreditava no impulso.
Pode ser que a parede também seja feita de vento.
Pode ser que a colisão seja só um nome.
O que ainda importa é o prazer de deixar o vento soprar a vela.

a flor de lírio

Saí da lira. Esparramei as sementes ao vento. Perdi-me de vista.
Cobrará de mim esse mundo a gratidão que eu não sinto? A de ter nascido em bons campos?
Talvez eu prefira ser um pântano, um solo árido.
Ainda que isso faça de mim um ser patético, movido por ânsias, terei de arcar com essa minha cara-de-pau:
Eu decreto meu direito de não ser fértil, de não sustentar nada.
Eu não vivo de plantar e colher.
Só quero decompor o que vive e alimentar o que morre.
Eu não tenho o controle. Não sou controlada pelo prazer. Não corro, não fico parada.
Minha dança é um contorno que se distende e me funde ao meio.
Eu componho movimentos com o brilho dos meus olhos e aquele excesso de contraste que sai do vídeo.
Eu poderia estar fora da tela. Não é o caso.
Posso perder-me, mas o mundo vigia cada passo.
Ele sabe que minha pele resseca quando chega o frio,
Ele enxerga a minha solidão.
E não tenho medo do mundo, mas queria que ele preferisse me ouvir.
O mundo só quer o meu brilho do olho. O mundo me assiste em 100% contraste.
Sou puro Photoshop nesse imenso banco de imagens.
É assim que eles me querem.
É disso que eu falo.
De que vale fazer crescer uma flor mais vermelha que o vermelho em si?
Que estas sementes voem daqui!
Se não for possível sair da tela, que o mundo veja meu pântano, meu deserto.
Porque a minha flor vai deixar de nascer antes de ser um bibelô.
E se quiserem me usar para semear mais brilhos de olho,
Terão de deitar na viscosidade do meu lodo ou queimar a bunda nas minhas dunas.

23.1.09

Descomunicação

Temo pelos tempos não descritos
O amor, a possibilidade de comunicação mais profunda
Inspira a verborragia
Assim como a solidão,
Quando é possível expressar-se a seres imaginários que nos habitam as angústias.

Porém, há tempos de confusão
Quando não há dor, amor ou ausência
Que façam brotar palavras
Tempos em que a linguagem,
Se surge,
É a fim de ser maltratada
Desperdício de tinta.
Não há sopro que molde poesia
Tudo vira matéria
E o corpo sofre o grito ausente de uma mente muda,
Que abdica da beleza

E a única forma de se sentir vida
É mover-se incessantemente
Pela pulsação sanguínea
Como uma dança frenética
E potencialmente mórbida

15.12.08

bonequinha bruxa

“...boneca de pano gingando...
no cabaré.
poderia ser bonequinha de louça, tão moça...
mas não é...”

Faz da tua brincadeira de fugir das cordas
O nó daquelas que seriam “super-n-dimensões” e o escambau
se não fosses tão covarde.
Invade essa tua prepotência, bonequinha!
Cospe esses trapos-sapos,
Respira, e sai dançando
Porque a calma precisa ser mimada
Ou vira paranóia.

Poeira-cordilheira, gata borralheira

“Dóceis pombinhos, rolinhas e todos os passarinhos do céu,
venham ajudar-me a escolher as lentilhas.
- os grãos bons no prato, os maus no papo.”

Falta ou excesso de tato?
Poeta ou pateta, de fato?
Quem somos nós, nessa banheira de neblina, nesse transbordar de quereres?

Atiradores de sapato!

13.12.08

SOBRE PELES E DANÇAS

COISA ESSA QUE ENVOLVE GENTE E SE EXIBE AO MUNDO 
PELE DE MEMÓRIAS, TATUAGEM DE TEMPO
EM SUAS “N” DIMENSÕES, DESENROLA-SE ENTRE AS COISAS PERCEPTÍVEIS E AS MISTERIOSAS, QUE SÓ SE MOSTRAM QUANDO A CHUVA TRAZ O CHEIRO ÚMIDO DA INFÂNCIA OU A AMPLIDÃO DA VARANDA DESCOBRE UM JEITO NOVO DE FAZER MÚSICA.
NÃO. ARQUITETURA NÃO É MÚSICA CONGELADA.
ELA NASCE, VIVE E PERMANECE NA MEMÓRIA EM PROCESSOS DINÂMINOS.
ARQUITETURA É DANÇA.
É A PELE QUE NOS CONDUZ E SE DEIXA CONDUZIR.
É ALGO AO QUAL NOS FUNDIMOS PARA SEGUIR EM MOVIMENTO.
UM CORPO ENVOLTO EM RIGIDEZ, NÃO DANÇA.

Janelas Quebradas

Sinapse etílica. Eu, tu, sexo dos paradoxos.  
Devaneios sob a consciência de um céu embaçado.
Como a coceira da garganta, o prazer urge mandando mensagens de alerta.
E eu continuo a soltar minhas baforadas, como se o expulsar da fumaça pudesse converter-se em expressão obscena, deleitosa.
Novamente a porta acena em gargalhadas. Ri da minha inocência fajuta. Mostra que quanto mais a bato na cara do tempo, negando suas visitas, mais permito que este invada as frestas das janelas sagradas. 

Talvez seja a hora de assumir que o profano das cordas ecoa em presenças mais reais do que eu imaginava.

Ou somente aceitar que o alívio da alma é tão quebradiço quanto imperecível. 

Tende à poeira.
Essa realidade suja dos que amam demais.

14.2.08

Farsas


Malditas sejam essas carapaças apaixonáveis que todos almejam.

Pro inferno as roupinhas descoladas e os corpos esculturais.

O conhecimento “pró-status”, a informação gratuita, sem paixão.

Farsa! São todos farsantes.

E quanto tempo se perde amando as maiores farsas...

As pessoas reais somente existem na interação.

Um abraço, um toque, um tapa.

É a vida o que importa, ninguém me prova o contrário.

Pro inferno essas inertes embalagens descartáveis!

Imunda


Sarjeta. Sujeitei-me ao que me foi sugerido: esquecimento.

Sujei o corpo e os pensamentos, sorvendo toda a imundice daquela dor.

Tomada pelos odores mais fétidos, abdiquei de qualquer possível delicadeza. Tal palavra, atualmente, causa-me náuseas.

Deleite agora é lixo.

E de tão podre que estou, já não sinto mais nada.

29.1.08

o ser cacofônico

seja não
se já não ser jaz o desejo
sei não
sobre esse, já

já sei!
jazidas de dúvidas?
melhor que seja já
e não

22.1.08

a morte do falso antídoto

Eis que aquela boba doença,
que se dizia antídoto,
morre agora por seu próprio veneno,
cujas doses foram minuciosamente calculadas.

Pois que eu não caia sem forças ou morta!

Não haverá mais doença ou intoxicação.


Que o único vício continue música.

morte casual

que grande sorte!
que porte, o daquela desabante moça,
que tão elegante,
deu com as fuças n'água
sem sequer ter visto a ponte.
situação casual e excitante,
morrer assim,
tão bela, tão jovem.
natural,
feito um passante.

15.1.08

na flauta, saiu um sambinha

por essa cor, por essa falta
na flauta, meu andar prossiga
que de tais contas, tão distantes
eu faça tonta melodia antiga

porque é preciso fazer do canto a saída
perder a pose de mariposa encolhida
tirar do peito essa coisa toda contida
fazer do passo de hoje o sentido pra...

saber que enquanto eu puder cantar
estarei viva

9.1.08

Guinga e Aldir Blanc: absurdo!

Nem cais nem barco (Guinga - Simples Absurdo 1991)


O meu amor não é o cais,
Não é o barco.
É o arco da espuma
Que, desfeito, eu sou.
É tudo e coisa nenhuma,
Entre a proa e a bruma, o amor.
É a lembrança que enfuna
Velas na escuna que naufragou.
Não é no livro antigo o olor
De rosa que eu recebi.
Não é a ode, a loa,
Em Fernando Pessoa,
Mas é a nostalgia
Do que eu não li.
Não é camafeu,
Exposto na vitrine, em loja de penhor,
Mas é o que doeu
No peito feito um crime
Ao homem que o trocou.
É o olhar de um instante
Fixando o amante
Em plena traição
Que há em noivas degoladas no caramanchão.
É o vulto de mulher,
Há muito tempo morta,
Em frente à penteadeira.
É o vazio que a
Ausência dela ocupa ao ver sua cadeira.
A chuva dessa tarde trouxe o Tito Madi
E apenas eu ouvia...
Ah, o amor é estar no inferno ao som de Ave Maria!


6.1.08

A solidão me vê

LISÉRGICA
SALA VAZIA
FORMAS LUMINOSAS
ENXERGAR TUDO CINZA
SILÊNCIO
PAPÉIS PERDENDO-SE
EM PILHAS DE NERVOS
NERVOSA
SALA VAZIA
ANTE-ANTI-PROJETOS
DE VIDA
OLHOS CORTADOS
BRUÑEL
OLHOS VAZIOS
ARDENDO
SILÊNCIO E CINZA
OLHOS IMATÉRICOS
RONDANDO
A MALDITA
SALA VAZIA

Um bom momento para ter dito não



Nunca recebi uma carta.

Eu queria a minha duna.

Que vida, que vida.

Que horas são?

Por que não estou dormindo?

Maldita tentação de verborragia.

Será essa a minha doença?

Eu vejo as compensações. Sim, vejo!

Sina perversa.

Comer desejos com farinha.

Pequeno fica o buraco.

Para a maldição de ser feliz.

Só uma boa dose de tristeza me conforta.

Nunca fiz um gol.

Nunca fiz poesia.

Auto-implosão de quereres.

Destruição do nexo.

Simplesmente não existo mais como antes.

Que horas são mesmo?

Ainda dá tempo?

Ou devemos nos contentar com as polidas lacunas?

Não sei mais fazer música.

Nunca fui uma pessoa justa.

Não entendo o prazer do nada,

Mas busco um vazio cotidiano.

Sinto porvires como relíquias.

Ando invertendo os passos,

Dançando com as mãos.

Que noite, que noite.

Desespero de anseios.

Sentenças confusas, obtuso aperto.

Careço de aprendizados.

Queria um pouco da tua angústia.

Que, ao meu ver, é tão calma.

E tão melodiosa.

Remexendo velhos cadernos a gente encontra cada coisa...

Vamos subir, amor?
lá fora existem novas vidas
outras dores.
é isso!
vamos mudar de dores?

Vamos sair, amor?
esse labirinto está tomado pela neblina
esbarramos contra paredes
porque não temos asas.

Vanos criar asas, amor?
Deixar as dores na névoa
pousar em outra realidade.

Não, amor.
Engana-te ao pensar que podes abandonar as dores
se queres subir e largar teus problemas à névoa
que o faça.

Pois eu, ainda que pouco enxergue,
que me estrepe entre os anteparos,
terei a vantagem do tato
dos olhos vermelhos
dos hematomas.

3.1.08

pontuações

Ela é tão pequena. e perdida em suas multidões.
Enche seu mundo de frases soltas
não sabe lidar com pontuações
Excesso de pontos finais? sim! é possível
Talvez má colocação, de vírgulas
É... de fato, é muito complicado saber em que lugar de uma história é possível o uso da vírgula
Mas é inegável que a toda sentença cabe um ponto final.
Mesmo que, com isso, talvez não se atinjam as mais corretas interpretações.

29.12.07

Momentos de Hist

Amor é calar a trama.
É inventar! É magia!
As palavras engenhosas
E os teus dizeres do dia
À noite não têm sentido
Quando arquiteto a elegia.

E sendo assim continuo
Meu roteiro de silêncio
Minha vida de poesia.

HIST, Hilda. Exercícios, pg 209.

Apago essa fome da mente,
essa maldita fome

de profundidades.

Porque já não cabe aqui
sequer
uma presença.

com vossa licença...

A falança do dia

Camponesa urbana

Mulher de olhos

Intrusos

Ansiosa como as outras

Ela só goza de momentos

Falsa paz, inventada

Vive a poesia dos outros

Abusa de palavras

Plagiadas

Lambusada de pequenos

E bobos

Fatos cotidianos

Deslocada

Cadáver esquisito

Perante o tédio

Instaurado

Regurgita os velhos discursos prosaicos

Conhece-os todos

Abraçar a palavra alheia

Blá, blá, blá

A falança do dia

Fala, criatura! Fala para matar essa maldita carência

Porque a tua saída é única

Esquivar-se por trás desse discurso idiota

Esse papo de antropofagia me cansa

Quero mesmo é voltar para dentro

Da página

Que aqui fora tá muito chato

Quero brincar com aqueles sons inaudíveis

E, com isso

Digerir meus delicados desejos de mudança

Nascimento de uma dor

No verso, faço prosa

Vista grossa ao compasso

E não é essa a nossa bossa?

Bosta de cabeça pensante

Verbo desgovernado

Destronado da velha razão

Cantoria em tempo espremido. Bom.

Desespero de voz

Que escapa, foge

Melodia nascendo

Na fusão das cordas

No momento em que tocas

As do teu instrumento

Como se fossem as da minha garganta.

Encanto findado

Olhos preenchidos

Deixam no tempo

O fruto de um amor criativo.

27.12.07

Vida em conserva

o meu pomar de potes

conserva infâncias melodramáticas

e mentirosa doçura

de tempos em que novelas eram temas das dores

e os amores tinham gosto de suco de guaraná

...e a intensidade de gritos em praia deserta

no inverno

entre memórias conservadas

e ilusões perdidas

tento encontrar os resquícios

daquele néctar

de um viscoso acreditar

que deixei como rastro

e que, talvez

já não volte a expelir

o tempo mora nos meus frutos

no entanto, tenho vivido de conservas

Sumário de neuras

Ela não pensa............01

Ela não pensa............02

Ela pensa que não ama....05

Ela só ama...............04

Ela só ama...............03

Ela mesma................06

Ela ama só...............07

Mas não fica ..........09

Só ela...................11

Ela ama..................12

E só.....................13

Mas nunca só.............08

Ela não..................15

Ela não pensa............16

Ela pensa................17

Ela pensa................25

Ela só pensa.............32

Nela só..................33

ela...................??

Decadência

Decadência

Amiga primeira

Ouvindo Garoto

Estendo-me em plácida fraqueza

Duas contas

malvada franqueza

que desencoraja a alma

E desinspira a vida

Solidão de prosseguir

Caminho escuro

Sem verde

Sem contas

Sem olhos

Resido no absurdo

do desperdício

de potencial esquecido

com alma presa

em algum lugar que já não é

seria alguém que não mais clama

porque há nisso um saber

que torna tudo muito complicado

deflagro o vazio

meu

hoje

amanhã estarei melhor

porque não sou poeta

porque não sei sofrer com charme

o meu sofrer é kitsch e não serve de nada.

Pretextos

As palavras me acalmam.

Imitam cantares antigos.

Poesia falsa e ternas falcatruas:

Especialidades da casa.

É simples assim...

Se alma não dança, se expele falada; pura verborragia.

Descompassada, cansada, agora balanço no meu refúgio.

Imagino terras além;

Espero porvires, pretextos, hipertextos inspiradores para esse tempo tão esquisito,

que insiste em parar.

Acabo por desfazer-me dos quereres.

Ando, ando...

Um dia chego a algum lugar.

Quando lá estiver,

volto correndo pra minha rede

pra pensar no assunto.

Sinestésico vazio

Sinestésico vazio.

Goiabada cascão sem queijo.

Comer-te-ia com raiva agora, se pudesse.

Quiçá você existisse.

Maldita assombração!

E agora eu sou a boba.

Menina boba.

Achou que ganhava uma cidade, essa menina.

Nada.

Agora só.

Sinestésico vazio.

Amarras do tempo

PASSOS EM CORDAS, PAUTAS

METICULOSO ANDAMENTO

E A ESPINHA NÃO FICA ERETA


CANSO DAS CONCRETUDES

AMPLITUDE DE VISÕES CONVEXAS

E DE COMPLEXOS CALABOUÇOS

INTERNOS

ABRAÇANDO AS AMARRAS

REVIRO O AVESSO DA PELE

E FURO OLHOS

COM PONTIAGUDOS OBJETOS KITSCH

PEDAÇOS, ESTILHAÇOS

DE MEMÓRIA INVENTADA

Eu, palavra

Estranhos desejos acolchoados em risos, suores e balanço de rede. As melhores palavras não pronunciadas. Elas simplesmente ainda não existem, não foram “convividas”. Drummond me ensina a contemplá-las: “trouxeste a chave?”, sugere. Porém, não sou capaz de ir além. Ainda quero cantar minha cidade, meu pensar, tudo aquilo que em mim insiste em plantar-se... e que ainda não é poesia. Quero agora brincar de ser palavra, pronunciar-me com gosto, gostar de ser solta no ar [kitsch mesmo! Como beijo que enfim se descobre beijo, bocas que enfim se descobrem bocas...]. Quero desvendar tudo isso que é bom e que, de repente, torna-se um mundo. Mundo novo, sem expectativas ou vicissitudes. Novo só. E bonito. Quero o “descortinar" de Clarisse.

Não.

Não é no anseio que mora a inspiração, mas nas lembranças boas. De tais quereres, somente fique aquela morna sensação de olhos que se encontram e se acalmam.

Novamente não.

Melhor voltar a Drummond e tentar conviver com os poemas antes de aventurar-me a escrevê-los.

Ode ao Kitsch


Porque não é amor

Essa coisa pinta os olhos e usa lenços coloridos

Fuma cigarros e faz música como pode

Já não expõe as vísceras

Prefere a angústia de pés gelados

Que vagam por expressões ainda mais kitsch

Que a sua patética rotina

Porque não é verdade

È de praxe demonstrar força e desdém

Reação frente ao invisível do cotidiano

Auto-implosões dicotômicas

Mascaradas em balanço de rede

Porque não é deus

Acredita em Guimarães Rosa e se desmonta

Montando na impaciência

Que já deixada de ser escolha, corrói por baixo das unhas

As cordas do instrumento

Procura em notas aquele escasso quê

De nada ser

De nada fazer querer

De si ou de outrem

O Eterno Retorno

Eu sou

O maldito farelo de pão da toalha

Sou eu

“O eterno retorno”

Fodam-se as portas!

E vem essa ânsia

Puta dor que nem dói direito

Não é dor

Se fosse, emagreceria

É um nó

Um precisar de mais e mais

Falta de balanço de rede

Ronronar de demônios

Sedutores

Algo faz hesitar

diante de tantas portas

Fodam-se as portas!

Chega de olhar para elas!

Se, é para sucumbir ao desejo,

Que seja ao da luz do dia!

Que seja a janela aberta!

A janela

Que é somente uma idéia

A janela é o verdadeiro

Alívio da alma...

O mito da caveira

Parece ocultar algo de belo sua sombra platônica...

Mas eu fui além de sua caverna, caveira!

Vi que não há luz para essa tua ossada sem olhos

Que tua ilusão já é real, cristalizada.

Encontrei certa poesia junto ao teu fenecer diário.

Mas sei que a morte não me alimenta.

E sei também que não suportaria

Compartilhar da tua interminável fome.

Mastiga!

Usa esses dentes!

Eles são o que te resta!

Porque eu tenho língua! E pretendo saborear cada pedaço de mim.

Porque sou gozo, sou vida!

E, ao contrário de ti, tenho dois olhos bem abertos.

Entre Hist e Leminski

Que pureza essa minha

Falta de credo.

Daria o que fosse,

Se já não estivesse tudo posto, dado.

Olha-me de novo, lia a menina boba.

Hist não é para meninas bobas!

Fecha-se o olho por cansaço

É olho, a raiz da aleivosia.

Transfere à pele aquilo que no olho falha.

Vaga por camas estranhas plantando olhares.

Multiplicando a fome.

Doce confusão de afetividades.

Procurando Leminski, diria que,

Essa mania de não perder o centro ainda vai me virar do avesso!

E, quem sabe assim,

Com a carne exposta,

Eu permita irradiar essa luz vermelha que agora me queima as entranhas.

Que já não é

Ponta nos murros meus,

Sou própria faca a mutilar-me.

Sátira mal feita da impotência que me domina.

Desespero holográfico,

Dor refletida em ângulos diversos.

Porta, que virou janela, que já não é. E mal se sabe.

Passadas as explosões de tédio, a vidinha previsível segue em sucessões de pausas.

Com poemas pobres e motivos insignificantes.

Os motivos


Poesia truncada

Palavra não quer fugir

Passa voando, desabando alucinações

E morre.

Auto-implosão por decadência

Hoje, esqueci de vestir as máscaras das múltiplas realidades

Enfiei as garras nos últimos punhados de querer e, como sempre, criei necessidades pequenas.

Preenchi-me de embaraços

Ando desvendando a estranha métrica da desilusão

Faço pouco do erro, nego as mais brilhantes barbaridades

Eu, agora, puramente estado

Aceito o acaso como meta.

Meto a vida num caos de sedução

E danço

Danço com força, presença espantosa

Pavoneio o destino com uma boa gargalhada

Invoco o inesperado com ar de palhaça e desmonto-me em lágrimas de criança

Choro de birra, se me derem um doce, logo paro!

Preciso de vento no rosto

Fiapos vermelhos molhados

Se pudesse, faria musicarquitetura cantada

Mas somente três vezes por semana

Que é pra ter tempo para os motivos

Ah! Os motivos...

São eles que destravam a poesia

home, sweet home

Casulo de mágoas ressecadas

De incontidas projeções inúteis

Paredes que afagam as camadas

De pele fissurada de medo

Casulo, buraco menos falso

Pás-pés-próprios, prontos segredos

Plantadas nos erros das vontades

Pequenas gargalhadas de tédio

The Weather Project, Olafur Eliasson. 2003.




O que faz humana essa carne torta, frente a punhados de hélio e imagens falsas?

Um sol que não é, um ser que não fui e que provavelmente nunca serei.

Beleza construída.

O que me faz chorar diante de um sol de mentira?

O reflexo.

26.12.07

Palhaça de Deus


Tempo de gargalhadas divinas

Aqui estou, meus caros!

Vossa ilustre comedora de frutas

Palhaça de Deus

Não é revolta aquilo que de mim se apossa

Menos ainda ingratidão

É fome!

Pinto a vida com olhos tragicômicos

Elegendo Deus meu ventríloquo

E saindo por aí dançando ao seu gosto

E o pior é que ele ri, o filho da puta!

Nada contra Maria...

Aliás... Salvem as putas!

Elas sim sabem o que fazer na manhã seguinte

Sempre dispostas ao sexo matinal...

Se por uns gordos trocados

Já a mim...

Só restam a sede

E a palhaçada

desentendimento


se é por acaso o que faço,

ou o que assim não mais posso,

já nem me interessa.

que não há portas,

refúgios para uma verdade possível,

estou por desvendar.

no espaço interno procurarei os suportes,

dançarei com os nervos a acalmar os quereres.

entendimento é pura religiosidade.

pois eis que vivo na confusão

e dela tenho me alimentado.

porque ainda busco,

aquele estado intangível.

e, ainda por cima,

tenho a cara-de-pau de fingir que é por pura curiosidade.

Intenções de rio

SE INTENTO, AS ÂNSIAS VAZAM SOBRE AS ASPAS DO TERMO

INCERTO, DESCONEXO

NO ANSEIO, INTENSIONALMENTE DESABO

ADENTRO

ABAIXO DA INFÂMIA SUPORTÁVEL

PROJETO O RIO NO QUAL JOGAREI AS PALAVRAS PURAS DEMAIS

QUE ELE JORRE CLICHÊS DAS VEIAS

SOBRE ESSA CIDADE VAZIA

E EU, AFOGADA

NA CONDIÇÃO DE CORPO SEM ÂNIMOS

HEI DE BOIAR

EM UM MAR AMPLO

SEM LINGUAGENS

Pausa

Não sou somente o que não pareço, mas também despedaço em imagens estúpidas, é fato.

Não desejo um parecer sobre o que sou, posso ou o que já passou.

Ou talvez nunca passe.

Nessas passagens, a vida é tão cheia de parecências, que cansa.

Por isso o momento é de pausa, de vazio.

E não há porque procurar poesia no vazio.

O vazio só é visível pelo lado de dentro.

Por isso somos tão egoístas.

E ainda assim, visão é algo tão traiçoeiro.

O vazio é bom mesmo para imergir-se. E só.

Sem visões, sem palavras.

Pois bem, esvazio-me.

Para uma pausa.

Tombo

TOMBA NA SOLEIRA DA PORTA,

QUE ESCANCARA A ALTURA DO MEDO

E A VASTIDÃO DE UM CHÃO QUE FALTA

CAI COM CERTO DELEITE

SENTE NA ESPINHA A RESISTÊNCIA DO AR,

NÃO A SUA

SUA MENTE ESTÁ CALMA, FUNDE-SE AO NADA

PARA O QUAL DESPENCA

ADENTRA

SEM MAIS DIZERES, É MENTE MUDA

A PARTIR DE AGORA

Sonho Cotidiano

Despida das vestes, envolta nas velhas cobertas

Desligo as luzes do dia

Desisto das imagens dos outros

Imersa no mundo do nada

No mundo palavra, faço-me corpo

Devasso em pensamentos solitários

Deliciosa sensação de escuro

Dançando ao ritmo das sentenças

Como criança embalada

Pelo tic tac à cabeceira

Eis que o dia está prestes

Esse vir a ser de toda manhã me cansa

A idéia de um dia que ainda não está pronto é muito pesada

Pra quem acorda com muito sono

Agarrada até o último fio de sonho

Decido que já é hora de enfiar os pés nas pantufas

Entrego-me ao cheiro do café da madrugada que ainda vem da cozinha

Bom dia! Diz a cozinha vazia

Esqueceste novamente de comprar pão!

Aliás, tens esquecido de tudo um pouco, ultimamente

Saboreando o último pedaço da última maçã da geladeira

Salto pela casa repetindo - em voz alta - a lista de tudo aquilo que esquecerei de levar

Programando afazeres que nunca se concluem, penso que poderia tomar banho frio, vez em quando. Essa água quente não faz bem à minha pele...

Hoje, não tomarei tanto café, não projetarei nada que não possuir um sentido para a minha existência, pensarei um pouco menos nessa maldita existência!

Desligo o Milton do rádio, junto as tralhas e desço a ladeira, curtindo o vento nos cabelos molhados

Bom dia! Dizem todos esses estranhos da rua

Carros enfileirados, pessoas todas doentes, presas nas suas rotinas e esquecendo a poesia

Bom dia! Diz o dia, que ainda não é dia

É mero desfecho da minha falta de vestes sob as cobertas

É sonho cotidiano