27.12.07

Eu, palavra

Estranhos desejos acolchoados em risos, suores e balanço de rede. As melhores palavras não pronunciadas. Elas simplesmente ainda não existem, não foram “convividas”. Drummond me ensina a contemplá-las: “trouxeste a chave?”, sugere. Porém, não sou capaz de ir além. Ainda quero cantar minha cidade, meu pensar, tudo aquilo que em mim insiste em plantar-se... e que ainda não é poesia. Quero agora brincar de ser palavra, pronunciar-me com gosto, gostar de ser solta no ar [kitsch mesmo! Como beijo que enfim se descobre beijo, bocas que enfim se descobrem bocas...]. Quero desvendar tudo isso que é bom e que, de repente, torna-se um mundo. Mundo novo, sem expectativas ou vicissitudes. Novo só. E bonito. Quero o “descortinar" de Clarisse.

Não.

Não é no anseio que mora a inspiração, mas nas lembranças boas. De tais quereres, somente fique aquela morna sensação de olhos que se encontram e se acalmam.

Novamente não.

Melhor voltar a Drummond e tentar conviver com os poemas antes de aventurar-me a escrevê-los.

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