paranóia
Tinha essa coisa dentro. Sem forma essa maldição.
Preferia partir nessas horas, mergulhar na delicadeza que é sofrer um surto de realidade.
Só o silêncio poderia preencher essa vontade de ir além.
Saltar pelas telhas escorregadias de uma casa vazia, abandonada dessa alegria cotidiana que persegue o amor como quem bebe a água que jamais sacia.
Preferia as pilhas de papéis mofados, talvez a única e possível testemunha de uma vida tão cheia de futuros esquecidos.
O que seria dela nesses momentos devastadores, de força sem medida? Desabaria sob as cobertas, inventaria seres?
Que energia é essa que nasce da paranóia? Desses olhos que nos acompanham para ler os registros de uma civilização que dura apenas as horas que não nos foram roubadas pela idéia de sobreviver...
Será uma espécie de sabedoria isso que agora pratico?
[Esse desfecho apático e necessário, impessoal demais para ser aceito como fato]
Vamos facilitar os cursos desse rio turbulento – gritavam seus fantasmas politicamente corretos enquanto sua mente saltava em patamares vertiginosos.
Ela tinha essa coisa e tinha vida nisso, dali sopravam os desejos absurdos de não pertencer a nada.
Por menor que fossem as mágoas, ela não as abandonaria.
Porém poucos perceberam a potência incrustada dessa coisa dela.
E por isso ela seguia só, acompanhada dos olhos estranhos de sua paranóia.