29.1.08

o ser cacofônico

seja não
se já não ser jaz o desejo
sei não
sobre esse, já

já sei!
jazidas de dúvidas?
melhor que seja já
e não

22.1.08

a morte do falso antídoto

Eis que aquela boba doença,
que se dizia antídoto,
morre agora por seu próprio veneno,
cujas doses foram minuciosamente calculadas.

Pois que eu não caia sem forças ou morta!

Não haverá mais doença ou intoxicação.


Que o único vício continue música.

morte casual

que grande sorte!
que porte, o daquela desabante moça,
que tão elegante,
deu com as fuças n'água
sem sequer ter visto a ponte.
situação casual e excitante,
morrer assim,
tão bela, tão jovem.
natural,
feito um passante.

15.1.08

na flauta, saiu um sambinha

por essa cor, por essa falta
na flauta, meu andar prossiga
que de tais contas, tão distantes
eu faça tonta melodia antiga

porque é preciso fazer do canto a saída
perder a pose de mariposa encolhida
tirar do peito essa coisa toda contida
fazer do passo de hoje o sentido pra...

saber que enquanto eu puder cantar
estarei viva

9.1.08

Guinga e Aldir Blanc: absurdo!

Nem cais nem barco (Guinga - Simples Absurdo 1991)


O meu amor não é o cais,
Não é o barco.
É o arco da espuma
Que, desfeito, eu sou.
É tudo e coisa nenhuma,
Entre a proa e a bruma, o amor.
É a lembrança que enfuna
Velas na escuna que naufragou.
Não é no livro antigo o olor
De rosa que eu recebi.
Não é a ode, a loa,
Em Fernando Pessoa,
Mas é a nostalgia
Do que eu não li.
Não é camafeu,
Exposto na vitrine, em loja de penhor,
Mas é o que doeu
No peito feito um crime
Ao homem que o trocou.
É o olhar de um instante
Fixando o amante
Em plena traição
Que há em noivas degoladas no caramanchão.
É o vulto de mulher,
Há muito tempo morta,
Em frente à penteadeira.
É o vazio que a
Ausência dela ocupa ao ver sua cadeira.
A chuva dessa tarde trouxe o Tito Madi
E apenas eu ouvia...
Ah, o amor é estar no inferno ao som de Ave Maria!


6.1.08

A solidão me vê

LISÉRGICA
SALA VAZIA
FORMAS LUMINOSAS
ENXERGAR TUDO CINZA
SILÊNCIO
PAPÉIS PERDENDO-SE
EM PILHAS DE NERVOS
NERVOSA
SALA VAZIA
ANTE-ANTI-PROJETOS
DE VIDA
OLHOS CORTADOS
BRUÑEL
OLHOS VAZIOS
ARDENDO
SILÊNCIO E CINZA
OLHOS IMATÉRICOS
RONDANDO
A MALDITA
SALA VAZIA

Um bom momento para ter dito não



Nunca recebi uma carta.

Eu queria a minha duna.

Que vida, que vida.

Que horas são?

Por que não estou dormindo?

Maldita tentação de verborragia.

Será essa a minha doença?

Eu vejo as compensações. Sim, vejo!

Sina perversa.

Comer desejos com farinha.

Pequeno fica o buraco.

Para a maldição de ser feliz.

Só uma boa dose de tristeza me conforta.

Nunca fiz um gol.

Nunca fiz poesia.

Auto-implosão de quereres.

Destruição do nexo.

Simplesmente não existo mais como antes.

Que horas são mesmo?

Ainda dá tempo?

Ou devemos nos contentar com as polidas lacunas?

Não sei mais fazer música.

Nunca fui uma pessoa justa.

Não entendo o prazer do nada,

Mas busco um vazio cotidiano.

Sinto porvires como relíquias.

Ando invertendo os passos,

Dançando com as mãos.

Que noite, que noite.

Desespero de anseios.

Sentenças confusas, obtuso aperto.

Careço de aprendizados.

Queria um pouco da tua angústia.

Que, ao meu ver, é tão calma.

E tão melodiosa.

Remexendo velhos cadernos a gente encontra cada coisa...

Vamos subir, amor?
lá fora existem novas vidas
outras dores.
é isso!
vamos mudar de dores?

Vamos sair, amor?
esse labirinto está tomado pela neblina
esbarramos contra paredes
porque não temos asas.

Vanos criar asas, amor?
Deixar as dores na névoa
pousar em outra realidade.

Não, amor.
Engana-te ao pensar que podes abandonar as dores
se queres subir e largar teus problemas à névoa
que o faça.

Pois eu, ainda que pouco enxergue,
que me estrepe entre os anteparos,
terei a vantagem do tato
dos olhos vermelhos
dos hematomas.

3.1.08

pontuações

Ela é tão pequena. e perdida em suas multidões.
Enche seu mundo de frases soltas
não sabe lidar com pontuações
Excesso de pontos finais? sim! é possível
Talvez má colocação, de vírgulas
É... de fato, é muito complicado saber em que lugar de uma história é possível o uso da vírgula
Mas é inegável que a toda sentença cabe um ponto final.
Mesmo que, com isso, talvez não se atinjam as mais corretas interpretações.