26.12.07

Sonho Cotidiano

Despida das vestes, envolta nas velhas cobertas

Desligo as luzes do dia

Desisto das imagens dos outros

Imersa no mundo do nada

No mundo palavra, faço-me corpo

Devasso em pensamentos solitários

Deliciosa sensação de escuro

Dançando ao ritmo das sentenças

Como criança embalada

Pelo tic tac à cabeceira

Eis que o dia está prestes

Esse vir a ser de toda manhã me cansa

A idéia de um dia que ainda não está pronto é muito pesada

Pra quem acorda com muito sono

Agarrada até o último fio de sonho

Decido que já é hora de enfiar os pés nas pantufas

Entrego-me ao cheiro do café da madrugada que ainda vem da cozinha

Bom dia! Diz a cozinha vazia

Esqueceste novamente de comprar pão!

Aliás, tens esquecido de tudo um pouco, ultimamente

Saboreando o último pedaço da última maçã da geladeira

Salto pela casa repetindo - em voz alta - a lista de tudo aquilo que esquecerei de levar

Programando afazeres que nunca se concluem, penso que poderia tomar banho frio, vez em quando. Essa água quente não faz bem à minha pele...

Hoje, não tomarei tanto café, não projetarei nada que não possuir um sentido para a minha existência, pensarei um pouco menos nessa maldita existência!

Desligo o Milton do rádio, junto as tralhas e desço a ladeira, curtindo o vento nos cabelos molhados

Bom dia! Dizem todos esses estranhos da rua

Carros enfileirados, pessoas todas doentes, presas nas suas rotinas e esquecendo a poesia

Bom dia! Diz o dia, que ainda não é dia

É mero desfecho da minha falta de vestes sob as cobertas

É sonho cotidiano

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