Despida das vestes, envolta nas velhas cobertas
Desligo as luzes do dia
Desisto das imagens dos outros
Imersa no mundo do nada
No mundo palavra, faço-me corpo
Devasso em pensamentos solitários
Deliciosa sensação de escuro
Dançando ao ritmo das sentenças
Como criança embalada
Pelo tic tac à cabeceira
Eis que o dia está prestes
Esse vir a ser de toda manhã me cansa
A idéia de um dia que ainda não está pronto é muito pesada
Pra quem acorda com muito sono
Agarrada até o último fio de sonho
Decido que já é hora de enfiar os pés nas pantufas
Entrego-me ao cheiro do café da madrugada que ainda vem da cozinha
Bom dia! Diz a cozinha vazia
Esqueceste novamente de comprar pão!
Aliás, tens esquecido de tudo um pouco, ultimamente
Saboreando o último pedaço da última maçã da geladeira
Salto pela casa repetindo - em voz alta - a lista de tudo aquilo que esquecerei de levar
Programando afazeres que nunca se concluem, penso que poderia tomar banho frio, vez
Hoje, não tomarei tanto café, não projetarei nada que não possuir um sentido para a minha existência, pensarei um pouco menos nessa maldita existência!
Desligo o Milton do rádio, junto as tralhas e desço a ladeira, curtindo o vento nos cabelos molhados
Bom dia! Dizem todos esses estranhos da rua
Carros enfileirados, pessoas todas doentes, presas nas suas rotinas e esquecendo a poesia
Bom dia! Diz o dia, que ainda não é dia
É mero desfecho da minha falta de vestes sob as cobertas
É sonho cotidiano
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